Estamos a perder a guerra contra as bactérias

Estamos a perder a guerra contra as bactérias

As infeções causadas por bactérias resistentes matam 12 pessoas por dia em Portugal – nove vezes mais do que os acidentes de viação. Numa reunião quase inédita na história das nações unidas, todos os estados-membros se comprometeram, na semana passada, a combater a proliferação da resistência aos antibióticos.

 

Portugal tem taxas particularmente elevadas de infeção hospitalar: 10,5 por cento, praticamente o dobro da média europeia. Mas já lá vai o tempo em que bactéria resistente era sinónimo de infeção hospitalar. “Nos últimos dois ou três anos assistimos a uma explosão, o problema extravasa para o meio ambiente”, sublinha a investigadora da Universidade de Coimbra, Gabriela Silva.

E todos nós temos culpa disso. Quem não toma o antibiótico durante o período indicado pelo médico, quem prescreve mal, quem dispensa o medicamento sem receita (o que é proibido em Portugal), quem põe no lixo normal os comprimidos que sobram.

Além dos hospitais, as explorações agropecuárias passaram a ser encaradas como focos de disseminação das bactérias resistentes. Porcos, frangos, salmões. Todos estes animais, produzidos de forma intensiva, acabam por ser um viveiro destes micro-organismos. Encharcados de antibióticos, para evitar doenças e também para cresceram mais depressa, é inevitável que venham a adquirir bactérias resistentes, que também passam para os solos, a água que bebemos, e até para o ar. Os alimentos mal cozinhados ou manipulados garantem a entrada direta no nosso organismo. E está o circo montado. Gabriela Silva, que se tem dedicado ao estudo destes processos, vê o cenário “muito negro”, se não se fizer nada. “Na Europa, limitou-se o uso de antibióticos em veterinária ao tratamento e isto resultou num decréscimo das resistências”, exemplifica. Mas depois, no resto do mundo, sobretudo na Ásia, usa-se indiscriminadamente, para tratar, mas também para prevenir e para engordar. “É preciso educar a comunidade e o pessoal clínico”, sublinha. Não é por acaso que a primeira superbactéria, resistente à colistina, o último recurso, tenha surgido na China. Mas, pouco tempo depois, o mesmo agente foi encontrado nos Estados Unidos. O Centro de Controlo de Doenças deu o alarme e o mundo ocidental acordou para o problema. “O gene que confere resistência pode passar facilmente para outras bactérias, da mesma espécie ou até de espécies diferentes. A situação pode sair do nosso controlo”, sublinha Gabriela Silva.

 

Fonte: Visão, 29 de Setembro 2016

29 de setembro de 2016

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