Já começou o primeiro dia de trabalhos no 27º CNOM, a 22 de novembro, cujo tema geral é a Inteligência Artificial (IA) e a Medicina. Decorreu na Reitoria da Universidade Nova de Lisboa a sessão de estreia com um debate sobre as implicações éticas da inteligência artificial, robótica e digitalização da saúde, moderado por André Dias Pereira, Vice-presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV).
A primeira intervenção coube a Ana Pina, especialista em Cirurgia Geral, que defendeu ser “absolutamente essencial” discutir a “era” da tecnologia, que tanto tem benefícios como coloca desafios diários na Medicina. “A digitalização da saúde tem uma série de benefícios de acesso, otimização de recursos e integração de cuidados, mas também tem desafios, sobre os quais temos de trabalhar”, referiu.
Por sua vez, Hugo Marques, líder da área de Digital & Automação na Siemens Healthinners Portugal, afirmou que se está perante “uma verdadeira revolução” que “só é possível” quando os algoritmos da inteligência artificial "estão integrados com a capacidade e empatia humana”, criando, assim, cenários e contextos que descrevem e antecipam as necessidades dos médicos. “É, sem dúvida, um mundo de colaboração, mas temos de perceber qual é o real impacto da IA na saúde”, acrescentou.
Inês Godinho, membro da Comissão Coordenadora e do Grupo de Trabalho em Ética, IA e Ciências da Vida do CNECV, apontou problemáticas que podem derivar da aplicação da inteligência artificial na área da saúde, ao nível das competências profissionais e da responsabilidade na prestação de cuidados, bem como um conjunto de eixos éticos que têm de ser ponderados: “Investigação biomédica, a prática e assistência clínica digital, administração da saúde e gestão hospitalar, educação e literacia em saúde em contexto de realidade virtual”. A oradora abordou, ainda, como eixo de reflexão ética, a “manutenção da relação médico-doente”, que deve ser “a principal preocupação”.
Já Manuel Curado, professor de Filosofia da Universidade do Minho, referiu que a inteligência artificial é “uma caricatura” do ser humano, com uma simplificação da vida humana, e questionou a necessidade da presença desta ferramenta digital em todas as áreas da vida. “A questão filosófica tem a ver com isto e com a seleção do que temos de descartar quando a inteligência artificial entrar significativamente na nossa vida”, disse.
O Bastonário da Ordem dos Médicos interveio no final da sessão, manifestando as suas preocupações acerca da inteligência artificial, que qualificou como sendo “uma evolução tecnológica completamente diferente” de qualquer outra e com um “ritmo preocupante” de desenvolvimento. Carlos Cortes alertou também para a questão da participação dos médicos nesta realidade, defendendo que “a comunidade médica não pode ficar de fora”. Por fim, o dirigente abordou a “relação insubstituível” entre os médicos e os doentes, referindo que “no dia em que essa relação for colocada em causa não é Medicina”.