A utilização de plasma de doentes recuperados da covid-19 em casos de pacientes com sintomas moderados ou graves é vista como um “passo intermédio” até ao desenvolvimento de uma vacina. Perante o arranque previsto para este mês de um ensaio clínico alargado, o pneumologista Filipe Froes manifestou a expectativa de se “acrescentar mais uma arma potencialmente útil” ao combate à pandemia provocada pelo novo coronavírus. “O que pretendemos é disponibilizar uma terapêutica promissora, enquadrada num contexto de avaliação de eficácia e de toxicidade. Neste momento, só é legítimo fazer estas terapêuticas englobadas em protocolos clínicos e investigacionais que garantam duas premissas essenciais: monitorizar a eficácia comparativamente com não fazer isto e monitorizar a segurança em termos de toxicidade e riscos”, afirmou à Lusa o membro da ‘task force’ da Direção-Geral da Saúde (DGS). O ensaio clínico vai ser coordenado pelo Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST), contando ainda com a colaboração do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) e o Infarmed. Para Filipe Froes, um eventual tratamento com plasma convalescente na ausência de um medicamento ou vacina especificamente criados para a covid-19 surge como mais uma etapa no travão da pandemia. “O ideal será o desenvolvimento de um fármaco específico e o futuro, provavelmente, passará pela vacina. A utilização do plasma será um passo intermédio até ao desenvolvimento desses dois grandes avanços: o fármaco específico e a vacina, que, provavelmente, será o fator decisivo e terminal da pandemia”, sublinhou, enfatizando ainda a importância deste ensaio pela possibilidade de “abrir todo um campo de investigação” para o futuro.Paralelamente, a diretora do Laboratório de Imunologia Clínica no Instituto de Medicina Molecular, Ana Espada de Sousa, explicou à Lusa que o recurso ao plasma de doentes recuperados “nunca será uma terapêutica para todos os doentes”, por ter “objetivos muito específicos” e uma “janela de oportunidade” limitada aos casos moderados ou graves.“Nas fases muito deterioradas, em que o processo [inflamatório] já esteja muito estabelecido, se calhar já há muitas lesões e não é tão útil. Por isso, são os doentes moderados ou graves e não os extremamente graves [a receber o tratamento com plasma], porque nesses casos poderá já haver uma deterioração de outros processos a contribuir para a doença e que não seja tanto por ação direta do vírus”, observou.
Fonte: Agência Lusa, 1 Maio 2020