Terceira geração renova Adega da Bairrada

As irmãs Lília e Sílvia e a prima Ana são sobrinhas-netas do Rocha que, vindo da Moita

(Anadia) há umas sete décadas, fundou uma tasca na Rua Reinaldo Ferreira, na zona de Alvalade. A elas se junta o marido de Ana, Eduardo Silva, para formar o quarteto que hoje gere o popular restaurante conhecido entre os clientes como Irmãos Rocha, que, depois de uma simples mas agradável renovação enfrenta os tempos mais ligado a designação oficial de Adega da Bairrada, como não podia deixar de ser, dado a origem da família.

No número 14 da Rua Reinaldo Ferreira, a esquerda de quem desce a rua a partir da Avenida do Brasil, uma pouco promissora porta de alumínio numa fachada esverdeada e a entrada de um mundo onde se come bem e se vive um ambiente de grande informalidade e boa convivência.

A Adega da Bairrada modernizou-se, mas não perdeu as velhas qualidades e continua a ser um restaurante de comida tradicional que não engana os clientes – alguns deles com décadas também de fidelidade. Sílvia, uma das filhas de Alberto Rocha, que com o seu irmão Adelino tomara conta da casa na década de 70 do século passado, herdando-a do pai, diz que a Adega da Bairrada de hoje mantém o que o tio e o pai criaram, “sem mudanças drásticas nem de qualidade”.

O segredo da popularidade do restaurante, segundo esta bióloga, que está a terminar um doutoramento mas dedica o seu dia-a-dia a Adega da Bairrada, “e a cozinha e as pessoas que trabalham, os colaboradores”. Alguns deles, sublinha, são ainda pessoas admitidas pelo seu pai e pelo seu tio.

Hoje, o restaurante revela os sinais da modernização, tem página de Facebook, atualizada diariamente, uma cozinha onde Eduardo Silva, com formação em hotelaria, dá uns toques mais refinados ao menu, e depois da sala de entrada, que praticamente não mudou, oferece aos clientes um espaço mais confortável, que incluiu até um pequeno jardim interior, onde uma oliveira se consola de tanta companhia e as salas recebem a luz que não tinham ate 2016.

Foi nesse ano, poucos meses depois de terem ficado com o negócio dos pais, que Sílvia, Lília, Ana e o seu marido concluíram as obras de renovação e alindamento, a que os irmãos Rocha em primeira instância torceram o nariz, mas de que agora são admiradores.

Mas se mudou alguma coisa, outras se mantêm e nunca mudarão. E o caso do famoso cozido das quartas-feiras, o pernil cozido com lombardos, os enchidos com grelos, o bacalhau desfiado assado na brasa ou em posta, a feijoada, o pato e o peixe assado no forno, o polvo frito com arroz malandrinho e os grelhados de carne e peixe no carvão. Mas as iguarias que foram sempre marca dos irmãos Rocha, a nova gerência, com Eduardo na cozinha, juntou pratos modernos, como o brás de legumes, a espetada de frango e abacaxi com molho de pesto ou a torta de bacalhau com salada russa. A Adega da Bairrada, em cuja cozinha reinou, durante muitos anos, a mãe de Sílvia e de Lília, a dona Olinda, dispõe de uma doçaria que merece degustação ao final do repasto. A tarte de maracujá e os pastéis de nata são uma marca da casa, mas o que verdadeiramente se distingue e o chamado bolo príncipe.

Sílvia conta que os pais, em 2006, a foram visitar a Barcelona, quando por la estudou. Ao inteirar-se de como corriam as coisas pelo restaurante a mãe disse-lhe que tinha inventado um bolo, explicando que a ideia base era bolo rei, tornando-o mais leve. E esse o bolo príncipe, feito com menos açúcar, massa folhada e frutos secos. Se for a Adega da Bairrada, não perca esta iguaria.

A Sílvia, que falou com o Medi.com acompanhada da irmã Lília – a prima Ana e o cunhado Eduardo estavam de férias – perguntamos no final da conversa como gostava de ver a Adega da Bairrada no futuro. Sem um momento de hesitação disse: “Aqui o conceito de família pesa muito, e a sabedoria que passa de geração em geração e gostava muito que a seguir a nos ficasse a quarta geração com a casa”.