A experiência do limite humano

A experiência do limite humano

A apresentação do livro «A experiência do limite humano», publicado pela editora Lucerna, foi uma iniciativa levada a cabo pelo Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos, que teve abertura de Jorge Penedo, vice-presidente do Conselho Regional do Sul, e decorreu ao final do dia no auditório da Ordem dos Médicos.
O padre Miguel Cabral exerceu Medicina durante dez anos e é especialista em Oncologia. Esteve gravemente doente no final do ano passado - disse mesmo na intervenção que chegara "a ter uma conversa com o S. Pedro", que acabou por considerar que ainda não seria a hora e ele devia "voltar para baixo" - e revelou que "a experiência não foi muito traumática", mas advertiu que "foi uma experiência forte de limitação" e relatou também alguns dos "pesadelos horríveis" de que se recorda da fase em que esteve nos cuidados intensivos.
"A experiência da fragilidade, da vulnerabilidade" foi o que mais o marcou e, desse ponto de vista, recordou também que esta experiência se vive hoje a todos os níveis, designadamente na dimensão social. "Este medo do contágio assombrou as nossas vidas", considerou.

"As profissões da área da saúde têm potencialidades para ser mais humanizantes e mais humanizadoras", disse, mas também alertou que "uma das imputações mais sérias que se podem fazer à sociedade moderna é que as pessoas estão mais egoístas, mais individualistas, menos solidárias, e muitas vezes sucede que os doentes são abandonados pelos profissionais".
Assim, defendeu que os médicos devem ter mais em conta as circunstâncias da fragilidade da vida humana, particularmente nestes casos mais difíceis, e lançou uma questão da possibilidade de haver estudos sobre "os pesadelos relatados por muitos doentes covid".
Luís Bento, que abordou as condições de muito pressão a que os cuidados intensivos estiveram sujeitos durante a fase mais crítica da pandemia, referiu-se também à pergunta que o padre Miguel Cabral tinha deixado sobre os pesadelos. O intensivista referiu que já há estudos sobre as pessoas com covid em cuidados intensivos e que há "registo de alterações neurológicas numa percentagem muito superior a outro tipo de doentes", o que o levou a concluir que "de alguma forma o SARS-CoV-2 tem um neurotropismo importante".
No serviço de Luís Bento foram feitas "algumas punções lombares aos doentes" e alguns deles "tinham quadros de encefalite". De resto, acrescentou que estava a ser feita "a avaliação destes doentes através de estudo eletroencefalográfico que revela padrões de atividade frontal patológica, que não está descrita noutro tipo de doentes".

18 de junho de 2021

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