Constrangimentos no hospital de Setúbal

Constrangimentos no hospital de Setúbal

O Hospital de São Bernardo recebeu a visita da Ordem dos Médicos, dia 4 de dezembro. O Bastonário, acompanhado pelo Vogal do Conselho Regional do Sul, João Frutuoso, e a Presidente do Conselho Sub-regional de Setúbal, Sara Paulino, reuniram-se com o Conselho de Administração, primeiro, e a seguir com os médicos. Carlos Cortes considerou existirem nesta unidade hospitalar “problemas crónicos, que já perduram há muitos anos”.

O Bastonário apontou a escassez de recursos humanos como uma das principais razões para as limitações que o hospital apresenta. Por isso, disse ao presidente do CA do hospital que “os médicos precisam neste momento é de ter condições para tratar os seus doentes”. Neste contexto, apelou ao Ministério da Saúde para sejam criadas “boas condições de trabalho para os médicos”, tendo em conta que estes “não têm sido bem tratados no SNS e saem”. Sara Paulino corroborou esta ideia e defendeu que “não é por haver mais oferta que vamos conseguir que os médicos trabalhem cá, se as condições não forem adequadas os médicos não ficam”.

Durante a reunião com o CA foram poucas as respostas para as dificuldades existentes, nomeadamente no serviço de Urgência, onde um dos principais problemas deve-se ao facto de serem mantidos muitos doentes, às vezes por períodos longos, internados por razões sociais e não clínicas. De resto, mais tarde, na reunião, um cirurgião defendeu a necessidade absoluta de olhar para o sistema assente na Urgência, pelo facto de dentro deste modelo não ser possível, aparentemente, encontrar uma solução, designadamente para o recurso ao serviço sem necessidade e para os casos sociais.

Mas são muitos os outros serviços onde se verificam grandes constrangimentos e essas realidades estiveram muito presentes na reunião dos dirigentes da Ordem com os médicos. Sáo os casos, nomeadamente, das áreas da Anatomia Patológica, Imagiologia, Ginecologia e Obstetrícia, sendo que os problemas identificados nas duas primeiras causam imensas dificuldades no processo de diagnóstico, que acabam por ser mais tardios do que o desejável. No âmbito da Medicina Interna, Carlos Cortes reconheceu a existência de problemas decorrrentes dos meios complementares de diagnóstico e terapêutica, o que, por sua vez, gera “atrasos inaceitáveis, que neste momento estão a pôr em risco o tratamento e a boa saúde das pessoas”. 

De facto, a falta de recursos humanos inquieta o Bastonário, “mas a maior preocupação é que não há perspetiva de melhorar”, referiu o dirigente, temendo que “haja hospitais que podem acabar por fechar”. João Frutuoso, Vogal do Conselho Regional do Sul, manifestou também preocupação com a situação, alertando que se houver apenas a “falha uma pessoa num serviço, e uma vez que se trabalha nos mínimos, o serviço cai".

O futuro do Serviço Nacional de Saúde e do hospital de Setúbal gera um sem número de preocupações à Ordem dos Médicos. e no topo está sempre a preocupação com a formação médica, que é "muito importante", como referiu o Bastonário. E caso não existam condições para se manter a qualidade da formação e os médicos fazerem “o que querem e gostam, não vão querer ficar no hospital e no SNS”.

Carlos Cortes abordou também uma questão muito quente na atualidade, a da criação de novas ULS, e confessou, ainda não saber “o que vai acontecer com as ULS, se vão ou não avançar em janeiro”, como estava previsto peleo Governo demissionário.

Embora todo o conjunto de limitações existentes no hospital de Setúbal, os médicos que aqui trabalham optaram por não acionar o mecanismo de recusa de horas extraordinárias, o que tem permitido que os problemas não sejam ainda mais graves. O Bastonário, no final, confessou ter notado um “espírito muito positivo de médicos que querem que o hospital dê uma boa resposta à população”.

4 de dezembro de 2023

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