Crónicas do Dr. Gago Coutinho

Crónicas do Dr. Gago Coutinho

40h – 5 h = 35h

 

O tema do mês de junho é claramente a redução dos horários dos enfermeiros das 40 para as 35 horas. Compromisso do Partido Socialista, é pois conhecida há mais de 2 anos.

E depois de várias investigações altamente especializadas consegui perceber que a aritmética mais básica não foi alterada nestes dois anos.

E por que faço eu esta referência? Ora vejamos: se reduzir 5h a cada profissional com 40h significa que ele passa a trabalhar 35h. Significa isso que cada trabalhador passa a representar 0.875. Fazendo uma simples regra de três simples.

Penso que uma criança de intelecto dentro dos padrões da normalidade e, com o 4ºano terminado, facilmente concluirá que para fazer o mesmo precisará de mais recursos.

Se fizermos uma representação gráfica, tipo gráfico de queijos, dividindo 40h em 8 fatias de 5h penso que um aluno do 6º ano entenderá que por cada 8 trabalhadores irá ser necessário ter mais um disponível. Ou dito de outra maneira: os recursos ficam mais escassos para as mesmas necessidades.

Ora, como equacionar então o problema? Perante tal complexidade já será necessário recorrer a um finalista do 9º ano. E aí, um aluno médio, conseguirá levantar a seguinte hipótese: o que preciso de fazer para conseguir manter a mesma produção se diminuir a minha carga horária disponível para 0,875. Um aluno menos criativo diria que precisava de contratar mais trabalhadores. Um aluno mais criativo diria que era preciso diminuir a produção se não queria aumentar a despesa em recursos humanos.

Esta complexa equação e dúvida metódica ocupou o raciocínio do nosso Governo. Porque obviamente esta questão já lhes tinha sido colocada. E como sair desta complexa dúvida: como cumprir as promessas sem aumentar a despesa? Ora, esta é de facto uma complicadíssima dúvida.

E, durante dois anos, o Ministro da Saúde tem refletido profundamente, sobre como fazer o mesmo com menos. E como na Saúde se deve privilegiar o método científico o Sr. Ministro deitou as mãos ao trabalho.  Raciocínio: se conseguisse diminuir a oferta sem dizer nada a ninguém podia ser que a coisa passasse. E aí começou um lento processo de encerramento de camas de internamento. Pé ante pé, cama após cama, com a discreta colaboração de esmifrados Conselhos de Administração, a coisa foi andando.

Problema: os dirigentes dos médicos e dos enfermeiros deram por este estudo. Faltavam-lhes camas para bem tratar os doentes. Algo que gostam e a que estão habituados. E começaram a ser revisores atentos deste relevante estudo. Descobriram ainda que, em Lisboa, havia enfermeiros a sair dos hospitais para os Centros de Saúde sem nada ter sido feito para os substituir. Uma análise mais atenta levou a perceber que a metodologia do Sr. Ministro tinha estipulado que tudo teria o seu climax em julho de 2018. Ora, então, de acordo com o aprendido com o aluno do 6º ano era preciso fechar, fechar camas.

Problemas: os doentes não sabiam deste estudo e continuavam a adoecer e a ocupar uma cama cada um. Resultado: o estudo começou a ser conhecido em todo o país e em todos os hospitais. Enfermarias, Unidades de Cuidados Intensivos, Serviços, por toda a parte foram reduzidos na lotação e alguns mais modestos fecharam mesmo.

E aí chegou o 4º Poder. As notícias de encerramento passaram a ser conhecidas. Os discretos fechos de cama aqui, cama ali, passaram a ser título de jornais e de telejornais.

E aí percebeu-se que o Sr. Ministro das Finanças era coautor deste estudo. O Ministro da Saúde prometia aos trabalhadores e o das Finanças prometia ao défice. Penso que até alternavam os dias para o fazerem. Na 2ª, 4ª e 6ª usavam o braço de aumento da despesa e à 3ª, 5ª e Sábado o braço do controlo da despesa. E assim as coisas iam andando.

O Ministro da Saúde, pressionado, considerando ainda não ter o estudo terminado, optou por tudo negar. Não existia qualquer problema porque era tudo uma invenção. Até o nosso Presidente veio dizer que não devia haver problema porque o Ministro tinha dito que estava tudo bem.

Mas o diabo é que o povo começou a falar, a Ordem, os Sindicatos e muitos outros. E aí todos ficamos a saber que cada trabalhador tinha passado a valer 0,875.

E o caldo entornou-se. O estudo veio a público. O gabinete do Primeiro-Ministro percebeu que este estudo podia não correr bem e o que não era preciso passou a ser muito necessário. Onde não era preciso contratar passou a haver promessas de contratação.

Verdade seja que ainda só vimos promessas e nenhuma concretização. Mas somos um povo crente e acreditamos que Deus nos irá proteger e orientar o pensamento de quem nos governa.

É pois necessário que o Sr. Ministro da Saúde tente descobrir quem o enganou e lhe disse que era possível fazer este estudo. Bem sei que esta é uma complexa equação, só conseguida resolver por um aluno do 6ª ano. Mas penso que, com os recursos do Governo, será possível descobrir. E não se esqueça de avisar o Dr. Ministro das Finanças que o estudo já terminou e que tem mesmo de abrir os cordões à bolsa. E por agora!

NOTA: este artigo tem uma parte substantiva de ficção. Caberá aos leitores descobrir onde acaba a ficção e começa a realidade.

 

 

21 de agosto de 2018

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