Hospital Oriental de Lisboa é uma exigência

Hospital Oriental de Lisboa é uma exigência

Hospital Oriental de Lisboa – miragem ou realidade

 Jorge Penedo*

Uma história iniciada com a construção do Hospital de Todos os Santos no longínquo 1492 e mais tarde no Hospital Real de S. José em 1775. Os HCL (1913-2015) fazem também parte desta história.

Teve vários nomes. Em 1910 um decreto determinou os estudos para a criação do Hospital Central de Lisboa. Foi criado um grupo de trabalho para o seu desenho e nada aconteceu. Durante anos caiu no esquecimento.

Em 1934 o regime determinou a construção do Hospital de Santa Maria e a tarefa entregue a Francisco Gentil, ilustre clínico da época. Quase 20 anos depois foi este inaugurado em 1953. E nele instalada a Faculdade de Medicina de Lisboa.

Em 1979 os governos de Portugal e Suécia assinaram um acordo no campo da Saúde, especialmente no que se referia aos planos de saúde para as Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto. A proposta prevista para a Área Metropolitana de Lisboa incluía a construção de dois novos hospitais. O Hospital Oriental e o Ocidental. Estes trabalhos iniciados em 1982 foram entregues ao Departamento de Estudos e Planeamento da Saúde do Ministério dos Assuntos Sociais, chefiado então pelo Dr. Baptista Pereira e tinha como consultor o Dr. Correia de Campos, economista da Saúde. Os trabalhos produziram um estudo do plano diretor que, no entanto, nunca se traduziram em qualquer hospital. Apesar dos belos desenhos que ilustram o estudo.

Nos anos 80 e 90 alguns documentos mantêm a chama acesa para a construção de novo hospital. A ver a luz do dia só o Hospital de S. Francisco Xavier, inaugurado em 1987, e que surge na sequência e adaptação da já existente Clínica do Restelo. Mais uma vez o Hospital Oriental ficou pelo caminho.

Os anos seguintes deram origem a 3 novos hospitais na Área Metropolitana de Lisboa: os Hospitais Garcia de Orta (1991), Fernando Fonseca (1995) e Dr. José de Almeida (2010).

Em 2003 surge no âmbito da ARSLVT a Estratégia de Reestruturação da Oferta Hospitalar no Concelho de Lisboa que define como prioritário o Hospital Oriental de Lisboa / Hospital de Todos os Santos. Uma opção confirmada pelo estudo liderado pelo Prof. Daniel Bessa e realizado pela Escola de Gestão do Porto, apresentado em 2006, e que coloca o Hospital de Todos os Santos na primeira de 10 prioridades para a construção de novos hospitais.

Em 2008 avança de novo o projeto do Hospital de Todos os Santos, que passa pelas várias fases, chegando mesmo a estar escolhido o parceiro para este projeto que decorria em parceria público-privada. Fruto de conflitos existentes no Governo Sócrates, das duas assinaturas ministeriais necessárias para ele avançar, uma fica por ser feita. Todos os Santos mais uma vez não avançou. Terreno comprado, plano funcional escrito, projeto finalizado, parceiro escolhido. Desta vez com tudo finalizado, falhou por uma assinatura.

Entre 2011 e 2015 o processo foi revisto, revisto, reponderado, criados novos grupos de trabalho. Revisto o programa funcional. Com a permanente resistência passiva do Ministério das Finanças e de alguns elementos de alguns gabinetes ministeriais. Sempre com os fantasmas da crise e da má imagem das PPP. Quem conhece o processo afirma que tudo podia estar terminado a tempo das eleições. Uma decisão que não foi tomada.

Com o atual Governo foi de novo reafirmada a vontade de avançar com a construção do Hospital Oriental de Lisboa. Adalberto Campos Fernandes têm-no reafirmado repetidamente. Novos grupos de trabalho. Novo programa funcional. Mais um terreno de 4 hectares adquiridos a juntarem-se aos 12 já existentes e mais um edifício previsto a juntar-se aos 2 vindos de trás.

Em recente entrevista, marca o ano de 2024 como a data da sua abertura. O que, se ponderar o calendário eleitoral, parece muito plausível. Em outubro de 2017 há eleições autárquicas e o concurso pode ser lançado durante o mês de julho. O que implicará cerca de 1 a 1,5 anos de concurso. O que levará o início da construção para 2019. Ano de eleições legislativas. Um calendário perfeito. E que talvez seja o motor necessário para fazer este projeto ver a luz do dia. Se assim tiver que ser assim o seja.

Mais relevante que todas estas considerações é o facto de que um Centro com 6 hospitais é de total irracionalidade e de impossível gestão. Todos os estudos afirmam a impossibilidade de evitar um elevadíssimo nível de ineficiência. Os recursos humanos necessários são totalmente desajustados à dimensão global do hospital no que respeita ao número de camas que detém. Vários estudos já afirmaram que o facto de não existir este novo hospital implica um desperdício tal que o pagaria num prazo de 3 a 5 anos.

Apesar do notável esforço dos médicos e restantes profissionais de saúde que trabalham nos velhos 6 hospitais que deverão dar origem ao Hospital Oriental de Lisboa, os resultados são permanentemente agredidos pelas velhas paredes e a distância redundante entre todos eles.

Para os doentes a construção do novo hospital será uma conquista assinalável. Circuitos coerentes, proximidades óbvias, renovação de recursos e de tecnologia. Acesso melhorado. Os ganhos são de tal dimensão que ninguém entende como é possível o adiar permanente deste projeto.

A terminar dois temas obrigatórios intimamente ligados a este hospital.

A sua construção permitirá, passados mais de 40 anos, à Faculdade de Ciências Médicas / Nova Medical School da Universidade Nova de Lisboa ter um hospital âncora. Um facto estratégico que Jaime Branco e Pita Barros souberam bem relevar em recente artigo do Expresso.

Um segundo tema decorre da opção anunciada pelo atual Ministro da Saúde: o de manter o Hospital de S. José como um hospital de proximidade. E aqui importa perguntar o que é um hospital de proximidade? Qual a sua missão?  Qual a população que vai servir? Num debate que decorreu na Assembleia Municipal de Lisboa ficou bem claro qual a população das freguesias servidas diretamente pelo Hospital de S. José. Uma população que não atinge os 20.000 habitantes. Qual o sentido de manter um hospital de retaguarda, ou de proximidade, no meio da capital do Império.

Em 1492 a opção foi concentrar e criar um novo hospital.

Construir o Hospital Oriental de Lisboa é uma obrigação de qualquer governo, de qualquer partido, de qualquer ideologia. É uma obrigação de cidadania, um ato de inteligência, uma opção de quem acredita que o Estado deve estar ao serviço dos cidadãos.

 * Vice-presidente do Conselho Regional do Sul

2 de julho de 2003

Documentos para download

Categorias

Categorias

Arquivo de Notícias

Arquivo