Médicos de família precisam de motivação

Médicos de família precisam de motivação

Mónica Fonseca, que moderou o debate MGF NO CENTRO DA SAÚDE, que decorreu no auditório da Ordem dos Médicos no dia 19 de maio, DIA MUNDIAL DO MÉDICO DE FAMÍLIA, tinha, no início da sessão, falado sobre os objetivos do debate: celebrar a data, relembrando a necessidade de repensar o centro dos cuidados de saúde e os princípios da mudança que se impõe, para dar resposta aos utentes, que em Portugal são já 1 milhão e 700 mil a carecer de médico de família.

O primeiro dos oradores da sessão foi Paulo Santos, o presidente do Colégio de Medicina Geral e Familiar da Ordem dos Médicos, que recordou, entre outros aspetos, o de uma prática que desmotiva os internos de MGF: "Os candidatos a especialistas de MGF dizem que passam mais tempo a fazer cliques no computador do que a olhar para o doente, prática que não corresponde à teoria". Esta necessidade "afasta-os muitas vezes do seu perfil profissional" e é de primordial importância "repensar no que realmente os identifica como médicos de família", sob pena de acabarem "por perder a sua identidade".

Nuno Jacinto, o presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, advertiu, por seu turno, que tem de se encontrar formas de "valorização e respeito" pelos médicos de família, até porque em Portugal se formam "especialistas reconhecidos em todo o lado, no estrangeiro e no setor privado". Entre as várias razões para que a MGF esteja a ser pouco atrativa contam-se, segundo o dirigente, a dificuldade "de conciliar a vida profissional com a pessoal", a falta de condições para investigação, "a baixa remuneração", a "flexibilidade de horários" praticamente inexistente, a dimensão da lista de utentes, e a falta de "condições básicas, como instalações, equipamentos ou material clínico". Nuno Jacinto desabafou, considerando que "é difícil ser médico de família hoje em dia".

Já o presidente da UEMO (Union Européenne des Médecins Omnipraticiens / Médecins de Famille), Tiago Villanueva, recordou realidades da especialidade noutros países europeus, embora admita que os médicos de família queixam-se de várias falhas comuns, como "falta de recursos humanos, atrair e reter médicos de família, falta de financiamento para os cuidados de saúde primários e de motivação", embora no resto da Europa, quase genericamente, a remuneração é mais adequada.

João Sequeira Carlos, que abordou o aspeto particular do trabalho de um médico de família num hospital privado e também as questões que se colocam à formação nesta especialidade em unidades privadas, disse: "As pessoas que nos procuram querem ver os seus problemas resolvidos e pouco lhes interessa se estão a ser vistas no setor público ou no privado e, como sabemos, hoje há grandes constramgimentos nos serviço público", o que conduz as pessoas a procurarem soluções. Quanto à formação especializada, o diretor do Serviço de MGF do Hospital da Luz Lisboa considerou que no caso da Medicina Geral e Familiar "a dificuldade de tentar enquadrar um programa de internato médico de MGF provavelmente existe porque estamos a pensar no internato tal como ele é e no perfil de competências tal como existe no SNS", por isso defendeu que é necessário repensar esse modelo e pensar nas necessidades que o futuro vai colocar.

Para além das intervenções dos oradores, o debate contou com inúmeras participações dos médicos reunidos para esta sessão, muitos deles figuras cimeiras da criação da especialidade em Portugal.

No final da sessão, Paulo Simões, presidente do Conselho Regional do Sul (ver outra notícia neste site), fez um comentário geral ao debate e o encerramento coube ao Bastonário da Ordem dos Médicos, numa mensagem gravada a propósito do DIA MUNDIAL DO MÉDICO DE FAMÍLIA.

20 de maio de 2023

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