Quase meio milhão de mortos e oito milhões de infetados é o balanço mais direto que a covid-19 causou em menos de seis meses, desde que foi detetada, e quando passam 100 dias desde que foi considerada uma pandemia.Mas o impacto é muito maior: mudou a forma como as pessoas se relacionam, como trabalham, como comunicam, as causas pelas quais lutam e, sobretudo, as preocupações sobre o que vai ser a vida das novas gerações.As mudanças começaram a 31 de dezembro passado, quando foi anunciado ter sido detetada uma doença misteriosa em 41 pessoas, na China.Inicialmente, parecia um problema localizado e ligado a um mercado da cidade chinesa de Wuhan, conhecido por vender animais vivos para comer.No final de 2019, as autoridades da China anunciaram à Organização Mundial da Saúde (OMS) ter em mãos um conjunto de casos de pneumonia viral de causa desconhecida em Wuhan, Hubei, e uma investigação foi iniciada no início de janeiro.Mais tarde, descobriu-se que a primeira pessoa conhecida com sintomas adoecera em 01 de dezembro de 2019 e que essa pessoa não tinha ligações conhecidas com o mercado de Wuhan.O vírus que causou o surto foi identificado como SARS-CoV-2 e relacionado com coronavírus detetados em morcegos e pangolins.A primeira morte causada por este novo coronavírus aconteceu na China, precisamente em Wuhan, em 09 de janeiro, mas menos de um mês depois, em 02 de fevereiro, morria a primeira pessoa fora da China, um homem das Filipinas.Oito dias mais tarde, em 09 de fevereiro, foi registada a primeira vítima mortal fora do continente asiático, já em França. A Europa abriu os olhos e tentou não entrar em pânico.Já em 30 de janeiro, a OMS tinha declarado o surto como uma emergência de saúde pública de interesse internacional, numa altura em que se contabilizavam quase oito mil casos confirmados em 19 países, mas, em 11 de março, a organização reconheceu a disseminação da covid-19 como uma pandemia.Esse dia será, provavelmente, o "Dia D" a história da covid-19, já que, de imediato, o mundo se preparou para mudanças drásticas na "normalidade" que, em breve, deixaram as ruas vazias, as escolas caladas, as empresas em suspenso e as pessoas em confinamento.Se a geração que tem hoje 40 anos pergunta entre si o que cada um estava a fazer no 11 de setembro de 2001, os seus filhos irão, com certeza, questionar-se sobre como viveram o grande confinamento de 2020.Em 13 de março já a OMS considerava a Europa como o centro ativo da pandemia e rapidamente a Itália ultrapassou a China como o país com mais mortes.Não demorou muito, no entanto, até os Estados Unidos ultrapassarem, quer a China, quer mesmo a Itália, como o país com o maior número de casos confirmados no mundo. Antes do final desse mês, Nova Iorque tornou-se a cidade do país com mais casos, sendo que a maior parte tinha origem em viajantes europeus e não diretamente na China ou em qualquer outro país asiático.A declaração de pandemia pela OMS – que cumpre 100 dias na próxima sexta-feira – levou muitos países a restringirem a livre circulação e reporem controlos nas fronteiras, a imporem quarentenas e toques de recolher e a aconselharem o confinamento voluntário em casa.
Fonte: Lusa, 16 junho 2020