Presidente do CRS aborda situação das urgências

Presidente do CRS aborda situação das urgências

SERVIÇO DE URGÊNCIA: UMA DAS FACES DA FALÊNCIA DO SNS

Não são precisas notícias nos telejornais nem cabeçalhos dos diários. Os médicos e a população conhecem bem a realidade dos serviços de urgência a nível Nacional. Salvo as devidas exceções, os serviços de urgência, quer gerais quer mais diferenciados, são uma maleita crónica nacional, atualmente sofrendo de uma agudização.

Não é clara se esta agudização se deve principalmente à crise financeira ou à desorganização estrutural, ou à falta de visão ou liderança que grassa no SNS. Provavelmente um pouco de cada.

As urgências estão sobrelotadas. Doentes que não necessitam delas coabitam com casos graves, internados em macas nos SO, por vezes durante dias, à espera de resposta dos serviços. As equipas estão esgotadas e descapitalizadas. Constituídas maioritariamente por Internos, tarefeiros, muitos sem especialidade ou a especialidade mais adequada.

Nas equipas de Pediatria e Obstetrícia, o recurso a “clínicos gerais”, a internos  e a empresas passou a ser uma regra, e mesmo assim os níveis mínimos definidos para as escalas são cumpridos.

Nos cuidados primários, as assimetrias dentro dos ACES são gritantes. As diferentes tipologias têm respostas muito diferentes e a equidade no acesso não está garantida.

A emergência pré-hospitalar, uma referência na Europa, ainda responde com celeridade e qualidade, mas os conflitos emergentes, muito relacionados com a redução de recursos, são evidentes e terão efeitos disruptivos a longo prazo caso não sejam adequada, e atempadamente, resolvidos.

E no Verão, fruto das merecidas férias, os recursos diminuem e os responsáveis estranham que as mezinhas propostas (como a mobilidade para o Algarve) falhem redondamente.

A “medicina baseada na Urgência” descaracteriza e destrói o SNS. Retira recursos dos serviços, penaliza a formação, gera conflitos, favorece o Erro, desumaniza a relação médico-doente, atrasa diagnósticos. Acima de tudo não resolve muitos dos problemas minor que levam os doentes à urgência e atrapalha a resolução das verdadeiras urgências, que passam a necessitar de várias “vias verde” para não aumentarem a morbimortalidade de algumas patologias frequentes e graves.

A resolução dos problemas da Urgência não se faz com obras e ampliações.  Nem com a contratação avulso de mais profissionais, pouco diferenciados e em part-time. Nem com mais uma comissão que elabora mais um relatório.

Necessita de outra abordagem. Sem engenheiros, políticos, advogados ou gestores como principais intervenientes.

Precisa de liderança e visão. Precisa de tempo, calma e algum investimento cirúrgico. Precisa de Diagnóstico, Plano de ação, Terapêutica e Reabilitação. Sem isso o Prognóstico permanece reservado.

Precisa de Médicos. Com letra Grande

Alexandre Valentim Lourenço
Presidente do Conselho Regional do Sul

 

13 de setembro de 2018

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