"Uma figura ímpar da Medicina portuguesa"

"Uma figura ímpar da Medicina portuguesa"

Luiz Damas Mora, que se tem interessado pela figura de Abel Salazar e já publicou sobre o tema no livro «Médicos e Sociedade»,  considerou, na sua conferência, que definir o médico e artista plástico num "só conceito" é dizer que se tratou de "um homem livre ou, melhor, um homem livre interiormente", que sofreu da circunstância de ter vivido "numa sociedade controlada pelo Estado", onde "a liberdade paga-se caro".

O cirurgião proferiu uma conferência que foi ilustrando com desenhos, pinturas e frases de Abel Salazar e traçou dessa figura ímpar o quadro de um homem truculento, de resto acentuada, numa intervenção final de Barros Veloso, um dos médicos que assistiu à conferência e que se interessa também pela vida de Abel Salazar. Esta figura da arte e da Medicina da primeira metade do séc. XX era um homem de "grandes e violentas polémicas" e chegava a destratar aqueles de que não gostava.

Damas Mora recordou a intensa peleja com António Sérgio. Depois de terem sido amigos, Abel Salazar zangou-se e chegou a escrever um artigo em que o ofendia, chamando-lhe  "tartufo, plagiador, inepto, ignorante, cabotino e pedante".

O conferencista invocou o feitio difícil, a juventude, "que lhe moldou o carácter", as ligações à maçonaria e ao MUD (Movimento de Unidade Democrática) e o extenso legado que deixou como médico, pensador e artista. Abel Salazar, cuja "rebeldia o acompanhou por toda a vida", disse o conferencista, rejeitava a metafísica desde novo, foi confesso seguidor do Círculo de Viena, professor despedido pelo Estado Novo e médico interessado e com estudos muito avançados para a época, designadamente estudando o que chamou aparelho de Golgi.

Era conhecida a perturbação mental de Abel Salazar, mas a obra que deixou na arte, na Medicina, nas letras é única. Tinha inimigos, é certo, mas havia quem o considerasse genial no desenho e na pintura de mulheres, primeiro trabalhadoras e depois também elegantes. Júlio Pomar, esta semana falecido, dele dizia que era "o pintor do verdadeiro povo".

O Vice-presidente do Conselho Regional do Sul, Jorge Penedo, fechou a conferência e referiu a importância de Abel Salazar e considerou que se sentia particularmente "feliz" por ter convidado Luiz Damas Mora para conferencista e pelo tema especial da sessão.

 

24 de maio de 2018

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