Vigora o desnorte

Vigora o desnorte

Vigora o desnorte

 

Os dados oficiais do Ministério da Saúde apontam já para mais de 1 milhão e 700 mil portugueses sem médico de família.

Já não é falta de planeamento. Já não é incapacidade de reter médicos no SNS. Já não é o desleixo com que se tratam os Cuidados de Saúde Primários. É tudo junto e chama-se desnorte.

Sabemos que provavelmente iríamos chegar aqui se não se cuidasse de cada um dos aspetos que contribuiu para o estado desanimador da resposta do Estado aos portugueses que precisam de médico de família, que a ele têm tanto direito como os outros e que enchem as urgências hospitalares.

Temos um modelo, cansado e a precisar que cuidem dele, mas, sabendo-se que não existem modelos eficazes sem que respondam às reais necessidades aos utentes, deixámos que ele se degradasse. A maioria dos pressupostos deste modelo não está a ser cumprida.

Os portugueses precisam de ter acesso aos CSP e precisam que o serviço tenha qualidade, mas os médicos e restantes profissionais de saúde desesperam por não ter carreira, por faltarem condições de trabalho, não haver recursos humanos suficientes, nem equipamentos ou instalações de qualidade. Todos vemos, todos ouvimos, todos lemos e não podemos ignorar.

Pelo menos que se enfrente o problema e se reflita rapidamente, se responda aos portugueses, se realize o que é necessário, se renovem equipamentos e se reforme o modelo.

E é preciso começar já, sob pena de rapidamente se tornar impossível garantir aos portugueses terem o seu médico de família e poder aliviar a pressão sobre as urgências.

O que se passa no Norte ou no Centro é diferente do que se passa no Sul e também diferente do que se passa nas Regiões Autónomas e é preciso conhecer estas diferentes realidades no que toca à Saúde, à carência de acesso e de recursos no setor.

E devemos atender a modelos partilhados; preparar a participação das autarquias e do poder político local na resposta aos problemas de saúde da comunidade e dos próprios sistemas locais de saúde.

E é preciso ignorar os tabus; fundamentalmente reforçar os CSP – e naturalmente, nesse quadro, reforçar a Medicina Geral e Familiar –, mas também as unidades de saúde pública e atender ao potencial do setor privado e social.

É urgente investir na prevenção primordial da doença, que o Estado deve assumir, e na literacia para o Sistema de Saúde. Sem isso nenhum modelo será capaz de responder.

A Medicina Geral e Familiar (MGF), neste contexto de necessidade de reformas, deve ser olhada como o centro da saúde e de gestão da doença. Não parece que seja complexo, porque todos sabemos quais são os problemas e quais são os resultados nefastos da acumulação sucessiva de falta de capacidade de renovar e reformar.

A Ordem está disponível para participar neste processo de mudança e quer naturalmente ser ouvida, até porque serão os médicos a liderar esta reforma, como já lideraram outras com sucesso.

No Dia Mundial do Médico de Família, que se comemora a 19 de maio, a OM propõe um debate que queremos profícuo. O tema é MGF no Centro da Saúde. Vamos ajudar a construir um novo modelo e uma nova realidade.

 

Mónica Fonseca

Vice-presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos

23 de maio de 2023

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