«Crónicas do Dr. Gago Coutinho»

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A maior dor de cabeça de António Costa

 

O Ministro da Saúde é claramente, no presente momento, a maior dor de cabeça de António Costa.

Adalberto Campos Fernandes sempre quis ser Ministro. Perseguiu o lugar durante anos. Estudou, preparou-se, ganhou amigos na Comunicação Social, nos stakeholders, ganhou guerras no Partido Socialista. Tinha sempre uma palavra para dar razão aos que protestavam.

Por onde passou deixou obra. Uma condição estava sempre presente. Ter dinheiro para gastar. E gastava-o. Assim fez no Hospital de Santa Maria. Assim fez no Hospital de Cascais. Assim fez no SAMS. Em todos deixou obra. Ao nível local.

Finalmente conseguiu ser Ministro da Saúde. E conseguiu dinheiro. Tem o maior orçamento de sempre. Iniciou o seu mandato com a bênção do Presidente da República, dos comentadores políticos. Dialogava com todos. Sindicatos, Ordens, Associações, Indústria.

Mas o tempo tem vindo a passar. E passados 2 anos qual o balanço? Que representa o Ministro da Saúde para António Costa, para o Governo, para o Partido Socialista e para a denominada “Geringonça”?

Ultrapassou com dificuldade, e momentaneamente, a greve dos enfermeiros. Onde a queda começou. Não soube ser firme a tempo e deixou uma má imagem de figura de estado.

Com o maior orçamento de sempre consegue ter a maior dívida de sempre.

Conseguiu em sede de Orçamento do Estado uma relevante verba de mais de 1 M de euros para pagar dívidas. Promessas tão credíveis que levaram o PCP a questionar na Assembleia da República o atraso no pagamento das dívidas. Notável: ser o PCP a exigir o pagamento ao grande capital.

Promete mais recursos e o Bloco de Esquerda, via Catarina Martins, vem dizer que a arte do Ministro se faz mais no debate parlamentar do que na concretização das promessas.

Aumenta o orçamento e Cavaco Silva em entrevista ao Expresso coloca a insustentabilidade do SNS como um dos nossos principais desequilíbrios estruturais. 

Afirma que tudo está bem e a Inspeção Geral de Finanças deteta irregularidades nas contas das ARS, que só em Lisboa e Vale do Tejo atingem uma subavaliação de 183 milhões de euros.

Abre um concurso para colocar médicos quase com um ano de atraso e não explica o número de vagas. Numa distribuição onde os hospitais não foram ouvidos nem opinaram nas suas necessidades.

Mas também no interior do Governo a sua posição só não deixou marcas públicas. Perante a pressão para abrir concursos em atraso o Sr. Ministro declara publicamente que a culpa era do Ministro das Finanças que não assinava as propostas que o Ministério da Saúde lhe enviava. Posteriormente vem tentar emendar a mão, justificando que a sua afirmação se referia ao facto de que o Ministro das Finanças estar em Bruxelas e não poder assinar.

Nunca se viu um Ministro declarar publicamente a sua não solidariedade com o responsável das Finanças. A quebra de solidariedade de Adalberto Campos Fernandes com Mário Centeno deixou marcas no interior do Governo, mesmo que o impacto político fosse pequeno.

Qual o futuro de Adalberto Campos Fernandes?

Diz-se nos bastidores que pretende sair e ocupar um lugar internacional. Um lugar que Francisco George não ocupou.

A FNAM já marcou 3 dias de greve e uma manifestação. Os sindicatos dos enfermeiros, com o apoio da Ordem, já anunciaram novas greves.

A redução para as 35 horas do pessoal de enfermagem, em junho, associado à saída de milhares de enfermeiros diferenciados para as ARS sem a devida reposição nos hospitais, vão lançar o caos nos serviços durante o verão.

E ao que parece a noite dos facas longas já começou. Manuel Pizarro já iniciou contactos aos mais variados níveis. Nos bastidores fala-se do seu nome para ocupar a pasta de saúde.

E agora que fará o Sr. Primeiro Ministro? Para António Costa, o atual Ministro da Saúde passou a ser um grande problema. Mas ele também sabe que precisa de o deixar chegar ao Verão para não causticar o seu sucessor.

Pelo meio fica a saúde dos portuguese e os direitos de médicos e outros profissionais. Veremos pois quem ganha: se a política ou se a Política.

Os médicos serão sempre médicos. E estão atentos.

 

 

3 de abril de 2018

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