Após a greve, que outras soluções?

Após a greve, que outras soluções?

Após a greve, que outras soluções?

 

Greve médica. Nesta legislatura, e neste mandato, com enorme esperança face às apregoadas melhores condições económicas pós intervenção da Troika, é já a terceira.

Passaram-se 18 meses e as condições de trabalho continuam a agravar-se. Menos equipamentos, menos profissionais, menos recursos, menos Medicina e menos saúde. Mais contestação, mais insatisfação, mais degradação de indicadores, listas de espera.

 

A cada greve, necessária e justificada, responde o Ministério com promessas. Soluções? Adiadas, sempre adiadas... A greve deixou de ser uma arma para obtermos melhores condições e passou a uma manifestação de protesto e insatisfação. Mas após cada uma, a ausência de soluções práticas e a manutenção de injustiças gritantes aumenta o sentimento de revolta. E de impotência...

 

A nossa capacidade de intervenção não passa só pela greve. No rescaldo, precisamos de outras soluções. Colocar na agenda dos políticos (de todos) a saúde, e em especial o seu (sub) financiamento é essencial.

Em cada hospital e centro de saúde, a presença de situações francamente anormais, que limitam ou prejudicam o nosso exercício e que se refletem na qualidade dos atos e saúde dos portugueses, tornam a denúncia das irregularidades um mal necessário.

Se as condições puserem em risco a sua segurança, não realizar atos em ambiente de rotina que introduzam iatrogenias desnecessárias, ou, ao realizar atos médicos inadiáveis, mesmo na ausência das condições adequadas, informar os utentes, as direções clínicas e a Ordem.

Em primeiro lugar, com elevação ética e rigor técnico, reportar às direções clínicas quer os problemas quer as propostas de solução. Em segundo, comunicar à Ordem, em especial se as condições prejudicarem o ato médico e tal possa repercutir-se no resultado; a responsabilidade individual dos melhores atos feitos nas piores condições deve ser delimitada e constituir uma salvaguarda prévia, que nos defende no âmbito disciplinar e cível.

 

Não baixar os braços, nem fugir às responsabilidades. Este é um momento em que é necessária Liderança e Coragem.

Ambas estão a par.

Sem liderança médica forte e responsável o SNS cai no caos. Não podem ser outros profissionais os líderes, se a missão do SNS é prestar melhor saúde. Gestores reféns da ditadura económica e financeira ou outros profissionais condicionados pela luta dos interesses particulares e parcelares de classe, deixam de fora os interesses do doente. Juramento de Hipócrates há 2500 anos ao serviço dos doentes.

Mas também é necessária coragem. Num momento em que o controlo da informação no Ministério é a regra, é necessário ter firmeza, falar e atuar, com elevação e resiliência. É um imperativo ético aplicar a legis artis aos nossos doentes. Mesmo sob coação ou outras formas mais subtis de pressão.

Estamos ao vosso lado. Ao lado da Medicina e pelos Doentes.

 

Ser Médico. Hoje mais do que nunca...

Com dedicação, ética, elevação e coragem!



Alexandre Valentim Lourenço 

Presidente do Conselho Regional do Sul



4 de junho de 2018

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