A Ordem dos Médicos retirou a idoneidade formativa à Cirurgia Geral do Hospital Fernando Fonseca (HFF), depois de meses de degradação da qualidade do serviço e de manifestas deficiências na capacidade de formar internos e de dar resposta aos cuidados necessários de uma população de centenas de milhares de pessoas.
A decisão, com base no parecer do Colégio de Cirurgia Geral da Ordem dos Médicos, foi divulgada publicamente numa conferência de imprensa que decorreu no dia 15 de janeiro, com a presença do Presidente do Conselho Regional do Sul.
Os 10 médicos internos da formação específica “vão ter de sair”, disse Paulo Simões aos jornalistas, já depois de se ter reunido, na Ordem dos Médicos, com a maioria desses internos, que manifestaram preocupação com o futuro e denunciaram várias dificuldades que enfrentam na sua formação.
As entidades responsáveis da Ordem consideraram “que o hospital não tinha condições nem tem condições para assegurar essa formação e os 10 internos da formação específica que lá estão vão ter de sair, assim como os internos de formação geral, uma vez que não lhes está a ser assegurada a formação desses internos dentro do hospital”, disse o Presidente do CRS na conferência de imprensa.
Desde há mais de um ano que a Ordem dos Médicos do Sul tem acompanhado a situação neste serviço, que se tem agravado sucessivamente e particularmente depois de no último trimestre do ano passado muitos especialistas o terem abandonado, por ter sido tomada a decisão do regresso de dois cirurgiões que tinham ido trabalhar para um outro hospital depois de terem sido publicadas num jornal informações das reuniões de serviço.
Neste momento, de acordo com os dados que têm chegado à Ordem e que têm sido verificados, existem dificuldades de garantir as Urgências e as tarefas programadas, como consultas e cirurgias, o que prejudica os cuidados cirúrgicos a uma população de centenas de milhares de pessoas.
Estas circunstâncias têm também causado prejuízos à formação na especialidade e às necessidades de orientação de que os internos carecem, o que é uma preocupação acrescida para a Ordem dos Médicos.
Neste contexto de dificuldades, o Colégio da Especialidade respetivo procedeu à avaliação da idoneidade formativa e concluiu que a melhor decisão seria retirar essa capacidade ao serviço, o que foi posteriormente ratificado pelo Conselho Nacional da Ordem dos Médicos.
O Conselho Regional do Sul convocou então os internos para 15 de janeiro e abordou com eles as várias possibilidades que se colocam ao seu futuro formativo, num encontro que teve a presença do Presidente do CRS, do Secretário, João Dias Ferreira, do Presidente do Conselho Nacional do Médico Interno, José Durão, Fernando Pereira, membro do CRS e do Conselho Nacional da Pós-Graduação, e Filipa Lança, Presidente do Conselho Sub-regional de Grande Lisboa.
Na conferência de imprensa, Paulo Simões, que esteve acompanhado por José Durão e Fernando Pereira, afirmou que em janeiro o serviço “praticamente desapareceu”. E para piorar a situação a direção do Colégio de Cirurgia Geral avaliou a capacidade formativa do serviço, em novembro passado, e constatou “que não existem condições mínimas para a formação de internos de formação específica de cirurgia geral no hospital”.
De acordo com o dirigente, a situação “foi alvo de uma análise profunda” nos vários órgãos dentro da OM que têm essa competência, e todos consideraram que o hospital estava sem condições para assegurar essa formação.
Compete aos órgãos da tutela avaliar sobre as condições de assistência à população que tem atualmente o serviço de cirurgia do hospital Amadora-Sintra, disse Paulo Simões, segundo o qual o serviço não consegue atualmente assegurar o número de cirurgias, porque o número de especialistas passou de 27 para sete. E disse saber também, informalmente, que há cirurgias adiadas e que o serviço de Oncologia está preocupado com falhas relacionadas com o tratamento dos seus doentes.
O futuro, admitiu, depende da capacidade do hospital em captar especialistas. E quanto à data de saída dos internos disse tratar-se agora de um processo burocrático e administrativo.