A reunião com os seus colegas realizou-se na biblioteca, completamente lotada, depois de uma visita aos serviços mais deficitários, a Urgência, a Medicina Interna e a Ginecologia/Obstetrícia, cujos especialistas se debatem com dificuldades para fazer escalas de urgência e para manter equipas mínimas.
Nesse encontro com os médicos, em que participou também o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Alexandre Valentim Lourenço ouviu especialistas com muitos anos de serviço e também jovens médicos, alguns deles ainda internos da formação específica.
Em declarações aos jornalistas, no final da reunião, o presidente do Conselho Regional do Sul alertou para a falta de médicos e de condições de trabalho no hospital de Vila Franca de Xira e relatou o que verificou nas instalações, por exemplo com a instalação de salas de observações numa zona de garagem da unidade.
O dirigente explicou que o hospital transformou uma garagem em enfermaria covid-19, mas “acabou a covid” e “ela continua a ser necessária”.
“Vimos muitos doentes que estão ainda internados na garagem do hospital. As instalações são maiores, são mais amplas, mas foram feitas adaptações que são penosas em termos de trabalho". E comparou com o caso do hospital de Setúbal, que visitou recentemente: "O número de macas que vimos em Setúbal não existem [em Vila Franca de Xira] porque aqui havia capacidade de abrir salas grandes para receber estes utentes. Agora, o número de médicos para tratar o mesmo número de utentes é o mesmo e isso não pode acontecer”, frisou.
Quanto a este aspeto, a administração defendeu que “tem feito o que consegue fazer com as regras que tem”, lembrando que “tem menos armas e armas menos potentes do que tinha uma administração que era autónoma, com capacidade para tomar decisões”.
De resto, a nova situação do Hospital de Vila Franca de Xira foi largamente debatida na reunião com os médicos, no contacto com a administração e na visita aos serviços. Alexandre Valentim Lourenço
“Nos últimos seis meses, começámos a ter pedidos de escusa de responsabilidade, relatos de situações de insuficiência de serviços, de escalas que não eram completadas, algo a que não estávamos habituados neste hospital”, afirmou o presidente da OM Sul, que referiu aos jornalistas ter saído da visita “muito preocupado”, porque “muitos dos problemas que existem em todo o Serviço Nacional de Saúde estão a alastrar" para esta unidade de saúde.
A gestão do hospital, de acordo com os dados, enfrenta agora mais problemas, desde que deixou de ser uma parceria público-privado (PPP) e passou para a alçada do Estado. Alexandre Valentim Lourenço considerou que as principais diferenças se prendem com a “autonomia de decisão e de contratação".
“Porque se se avaria um equipamento o relato que nós tínhamos é que num mês ele era substituído, e agora não há ‘stock’ e pode demorar dois anos. Isso é grave. Também na contratação: quando era preciso um médico, e se houvesse médicos, tinham alguma maleabilidade para oferecer contratos com alguma velocidade. Agora não. Agora estão presos a sistemas centrais que fazem com que estes concursos demorem meses e às vezes anos até estarem resolvidos”, explicou.
A visita ao Hospital de Vila Franca foi em tudo semelhante a outras que a OM Sul tem feito, mas há agora um diferença. “Há seis meses não tínhamos estes relatos”, disse Alexandre Valentim Lourenço.
Também presente na visita esteve o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Roque da Cunha, que alertou que há médicos naquele hospital com “550 ou 600 horas de trabalho extraordinário”, o que mostra que “algo está mal”.
Roque da Cunha exemplificou ainda que há serviços, como gastrenterologia, em que as listas de espera para os doentes externos fazerem exames “são de dois anos”: “Há um aumento das listas de espera, diminuição das equipas, diminuição de profissionais”, resumiu.
O hospital de Vila Franca de Xira serve cerca de 250 mil habitantes dos concelhos de Alenquer, Arruda dos Vinhos, Azambuja, Benavente e Vila Franca de Xira.