JOÃO MANUEL FERREIRA DE FRANÇA DÓRIA NÓBREGA nasceu em 1934, em Macequece (Moçambique), e morreu em Lisboa, a 16 de abril de 2021. Especialista em Ginecologia/Obstetrícia, depois de um longo e brilhante percurso profissional, aposentou-se em 1996, quando era diretor do serviço de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal da Maternidade Alfredo da Costa, onde trabalhou praticamente toda a sua vida.
Foi membro da primeira Comissão de Saúde Materna e Infantil, constituída em 1987, que elaborou o Programa de Saúde Materna e Neonatal e garantiu a Portugal um êxito tremendo no combate à mortalidade infantil. Antes disso, tinha sido consultor de Saúde Materna e Planeamento Familiar da Direção-Geral dos Cuidados de Saúde Primários, de 1978 a 1988, e presidente da Associação para Planeamento da Família por três diferentes períodos, de 1986 a 1988, de 1988 a 1990 e de 1992 a 1994.
No contexto do desenvolvimento do Planeamento Familiar em Portugal, Dória Nóbrega não pode ser esquecido como uma das figuras mais relevantes e o seu contributo estendeu-se aos esforços para diminuir a mortalidade infantil e perinatal, que era elevadíssima na época em que começou a exercer – a taxa de mortalidade infantil em Portugal passou de 42 por mil em 1960 para apenas 3,5 em 2019, uma das mais baixas do mundo.
João Dória Nóbrega teve também uma atividade intensa na Ordem dos Médicos. Foi membro do Colégio da Especialidade de Ginecologia-Obstetrícia da Ordem dos Médicos, nos triénios 1994-1997 e 1997-2000. Nessa altura desempenhou funções de coordenador da Região Sul, fui júri de exames de especialidade em diversas ocasiões e desempenhou um importante papel na comissão de verificação da idoneidade formativa da sua especialidade.
No contexto do seu trabalho relevante na Ordem dos Médicos, Dória Nóbrega foi agraciado com a Medalha de Mérito no Congresso Nacional de Medicina, que decorreu no Porto em 2015.
Mesmo depois de aposentado manteve a sua atividade como obstetra, continuando a fazer partos até aos 80 anos de idade.
A atual diretora do Departamento de Medicina Materno-Fetal da MAC, Maria José Alves, em declarações ao Observador, atribui a João Dória Nóbrega o arranque das consultas multidisciplinares nessa unidade, com a integração de vários profissionais de saúde para uma bem-sucedida vigilância da gravidez. “Estas consultas foram reproduzidas em muitos hospitais, mas começaram com a mente visionária do dr. Dória”, recordou, destacando ainda a forma como este ensinou os colegas a encarar o erro, olhando para o futuro e procurando sempre refletir sobre o que correu mal.
Maria José Alves trabalhou com o ginecologista e obstetra durante uma década e assegura que, mesmo já estando reformado e em casa, continuava a atualizar-se. “Ele fez com que vestíssemos a camisola da casa. Ele vai ficar sempre connosco, os seus conhecimentos também”, concluiu.