Médicos saem do SNS com mágoa

Médicos saem do SNS com mágoa

Há um conjunto de fatores que contribuem para a saída dos médicos do SNS. Os que saem revelam alguma mágoa por ter de o fazer e se pudessem ter as condições necessárias regressariam ao serviço público. Três destes médicos conversaram sobre o assunto numa mesa moderada por Paulo Simões, no 26.º Congresso Nacional da Ordem dos Médicos, que termina hoje (25 de novembro) no Porto.

O presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos moderou a mesa «Fatores Determinantes do Abandono do SNS», que contou com um painel de médicos que optaram em exclusivo pelo privado.

Os membros do painel foram Pedro Correia Azevedo, internista, agora diretor clínico dos Serviços Domiciliários CUF e que trabalhou no Hospital Garcia de Orta; Nuno Fradinho, de cirurgia plástica e reconstrutiva, presidente da respetiva sociedade científica que trabalha agora na unidade privada CUF Tejo; e Maria José Brito, de anatomia patológica, que foi diretora do serviço no Hospital Garcia de Orta e trabalha atualmente na Fundação Champalimaud.

Na abertura da mesa, o moderador apresentou os membros do painel e referiu a absoluta necessidade de garantir condições para que os médicos não tenham razões para abandonar o serviço público de saúde, uma vez que é necessário estancar este movimento que não terá fim se não forem tomadas medidas.

Cada um dos membros da mesa apontou várias razões para a sua decisão, embora com um ponto comum na falta de organização e de resposta aos anseios que os jovens médicos têm por viver uma vida pessoal normal.

Maria José Brito recordou que começou a ponderar sair do SNS quando começou a sentir “um sistema de desempoderamento das direções de serviço”, que deixava os serviços “numa bagunça total” e as dificuldades administrativas crescentes. Contudo assumiu que “preferia de longe trabalhar num hospital público”, reconhecendo que não há condições para o fazer, designadamente na área da formação de internos.

Já Nuno Fradinho revelou: “Tive sempre a ideia de fazer uma carreira médica, estar presente durante muito tempo numa instituição pública, sempre me vi como um cirurgião reconstrutivo, mas essa ideia foi esmorecendo, mas mesmo assim mantive essa intenção.”

Mas ao longo do tempo, com a dificuldade em avançar com projetos, com restrições nos seus propósitos e com uma vida profissional carregada de horas extraordinárias, acabou por se decidir a sair. “Não sei se fui sendo puxado ou se fui sendo empurrado”, disse o especialista, que adiantou também: “Se continuasse não sei se teria condições para estar junto da minha família e se teria os três filhos que tenho”.

No caso de Pedro Correia Azevedo, as razões não foram muito diferentes. O internista aponta dois pilares na sua decisão. “Motivações pessoais, com uma necessidade geracional, e não querer ter mil horas extraordinárias por ano… Não era justo trabalhar 18 meses em 12”, mas também a forma como vê a sua especialidade. “Gosto de ser um internista completo, mas não gosto de ser o internista que só faz urgência, que passou a ser terra de ninguém e só do internista”, considerou.

Contudo, também ele sente falta de algumas das atividades que tinha no serviço público. Apesar de tudo, vai havendo internos na CUF e continuo a ter essa ligação, mas sinto falta daquela dinâmica da formação de internos”, que tinha diariamente.

Qualquer destes três médicos saiu com mágoa do SNS e todos admitiram que voltariam se estivessem criadas as condições necessárias.

25 de novembro de 2023

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