Uma em cada 10 pessoas que sofre ‘borderline’ suicida-se ainda jovem

Uma em cada 10 pessoas que sofre ‘borderline’ suicida-se ainda jovem

Uma em cada 10 pessoas que sofre de perturbação da personalidade ‘borderline’ suicida-se ainda jovem, uma doença que constitui um grave problema de saúde pública, mas que é incompreendida, mal diagnosticada e maltratada, alerta o psiquiatra João Carlos Melo.
Foi para dar voz a estas pessoas que se encontram “perdidas numa terra de ninguém” e alertar para esta doença que João Carlos Melo escreveu o livro “Reféns das próprias emoções - Um retrato íntimo das pessoas com personalidade ‘borderline’”.
“Notei que fazia falta um livro com estas características, nomeadamente em Portugal, dedicado sobretudo ao grande público, embora todas as pessoas da área da saúde mental certamente que ficarão mais bem informadas”, diz o psiquiatra em entrevista à agência Lusa.
Desde a publicação do livro em maio que João Carlos Melo tem recebido “muitas reações extraordinariamente positivas” de reconhecimento e de agradecimento.
“Muitas pessoas que eu não conheço têm mostrado que o livro tem ajudado a divulgar este problema e sentem-se reconhecidas, sentem-se retratadas e sentem que é um bom serviço que é prestado dando a conhecer este problema”, revela o psiquiatra, que pretende também com o livro ajudar doentes e familiares.
No livro, o psiquiatra pergunta o que é que Marilyn Monroe, Janis Joplin e Amy Winehouse tinham em comum. “A fama? Sem dúvida que sim. O talento e o brilho? Também”, mas havia “um outro lado”.
“Eram excessivas, intensas. Viviam sempre no limite. As relações que estabeleciam eram dramáticas e tumultuosas. Tinham atitudes autodestrutivas. Agrediam-se a si próprias de formas variadas” e “eram demasiado jovens quando morreram” e eram doentes ‘borderline’, escreve o diretor do Hospital de Dia de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca (Amadora-Sintra).
À Lusa, João Carlos Melo explica que a maior parte das pessoas não precisa de fazer um grande esforço para regular as suas emoções, podendo ficar indignadas, zangadas, magoadas com muitas situações, mas estas pessoas “ficam muito mais” porque são “hipersensíveis”.
“Não conseguem controlar as emoções por várias razões que têm a ver com o temperamento, com o funcionamento biológico, com as histórias de vida e a própria impulsividade”, explica.
Segundo João Carlos Melo, são doentes que “sofrem e fazem sofrer os outros” e são “incompreendidos” como é a doença.
“Mesmo dentro da psiquiatria, esta doença é mal compreendida, mal diagnosticada e maltratada. Como o têm sido as pessoas que dela sofre”, afirma. 
Estimativas apontam que esta doença atinja mais de 2% da população, o dobro da doença bipolar, da esquizofrenia e da doença de Alzheimer, mas podem ser mais, porque muitas vezes o diagnóstico tende a ser feito para outra patologia, como a depressão ou bipolaridade, ansiedade.
Também há doentes que só procuram ajuda em situações de crise nas urgências dos hospitais, acabando por desaparecer e não ficar nas estatísticas.
   A ideia da morte está quase sempre presente nestes doentes e 10% morrem de suicídio, o que "é muito", e cerca de 75% fazem tentativas de suicídio: “Isto pode ser entendido e pode ser sentido como uma manipulação, mas na verdade a pessoa está a ter um comportamento desesperado de sobrevivência”.
   Já os comportamentos autolesivos tem outro significado que é provocar uma dor física para aliviar a dor psicológica que os doentes descrevem como sendo “dolorosa” e “insuportável”.
Estudos epidemiológicos mostram que mesmo sem tratamentos específicos os doentes vão melhorando com o avançar da idade “nestes comportamentos mais exuberantes, de impulsividade, agressividade”.
Mas há outros aspetos que são mais difíceis de melhorar como o vazio interior, a baixa autoestima, a dificuldades nas relações com as pessoas e angústias de separação e abandono.

Lusa, 15 julho 2021

15 de julho de 2021

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