Problema das urgências exige planeamento e meios

Problema das urgências exige planeamento e meios

À porta do hospital, onde hoje (15 de janeiro) falou aos jornalistas antes de rumar ao Centro de Saúde da Amadora e depois de ter estado no de Agualva-Cacém, Alexandre Valentim Lourenço defendeu o reforço dos recursos humanos e uma articulação mais eficaz entre hospitais e cuidados de saúde primários.

“É importante investir mais no sistema de saúde, para que haja mais meios, médicos, enfermeiros, recursos humanos e materiais, para darmos uma melhor resposta, mas nem sempre essa resposta deve ser dada nos cuidados hospitalares”, salientou Alexandre Valentim Lourenço.

O Presidente do CRS fez a visita com o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Roque da Cunha, e pouco antes, no Centro de Saúde de Agualva-Cacém, ambos verificaram o funcionamento de uma unidade que se desenvolve por três pisos com um único acesso por escada e onde antes das cinco da tarde havia já utentes a aguardar atendimento complementar que só começaria às 20h00.

E argumentou: “O problema das urgências não se resolve apenas nos hospitais, resolve-se a montante, evitando que muitos doentes que não precisam venham para este serviço de urgência, esperarem horas a mais”, quando os centros de saúde deveriam ter capacidade para resolver esses casos, disse aos jornalistas invocando o exemplo do horário de atendimento complementar, que se inicia às 20h00 e deixa os centros de saúde sem capacidade de resposta durante várias horas.

Alexandre Valentim Lourenço, que visitou as urgências e se reuniu antes com a direção clínica, disse ter encontrado, no Hospital Fernando Fonseca, “a maior urgência da região sul a trabalhar em pleno, com muitos médicos, com muitos sistemas, a darem todo o seu esforço para tentarem resolver o problema da afluência e do mau planeamento dos serviços de saúde”.

A falta de planeamento é óbvia quando, disse o dirigente, se verifica que existem centros de saúde em que número significativo de utentes “espera por consulta ou que estão mesmo vazios, enquanto as urgências hospitalares continuam cheias”. Para Alexandre Valentim Lourenço, a questão a resolver não é abrir mais salas, mas sim a articulação e o planeamento que “é essencial fazer-se”.
No Amadora-Sintra, tradicionalmente com tempos de espera muito grandes, o Presidente do CRS encontrou profissionais ativos, mas cansados, num serviço “desgastante, cansativo, psicologicamente brutal” e feito diariamente, “sem ver reforços nas suas equipas”.
Apesar de se ter deparado com “uma situação de grande movimento”, o dirigente da Ordem dos Médicos explicou que “o afluxo é médio para a época”, mas o sistema “está no limite” e não tem “elasticidade para permitir um maior afluxo”.
“Este sistema está nas últimas, garantido por um conjunto de profissionais que dão o litro, que dão o quilo, mas que já não podem dar a tonelada”, rematou.

O secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) reforçou esta posição, considerando que “a questão de fundo é que o Ministério da Saúde continua a desinvestir nos recursos humanos”. Jorge Paulo Roque da Cunha recordou que “no ano passado 500 especialistas hospitalares não foram contratados e a verdade é que, neste hospital, nos seus balcões, estão equipas de prestadores de serviços.
Para o dirigente sindical, as equipas do Amadora-Sintra, ao nível das especialidades, “também estão depauperadas” e, por isso, além de ter que se resolver o problema das urgências, terá de se encontrar solução para um hospital construído para 500 mil pessoas e que serve mais de 800 mil.

Neste contexto, Roque da Cunha defendeu que “o Ministério da Saúde, ao invés de se preocupar com a propaganda, deveria preocupar-se em resolver os problemas de saúde e investir no Serviço Nacional de Saúde, coisa que não tem acontecido”.
“Consegue-se tapar o sol com a peneira pontualmente, mas estruturalmente o Ministério da Saúde continua sem dar resposta às necessidades em termos de recursos humanos, objetivamente, nem em termos de investimento”, lamentou o secretário-geral do SIM, para quem a situação não afeta apenas o Amadora-Sintra, mas também outras unidades, na zona de Lisboa e no país, que “precisam de investimentos não só nos seus recursos humanos como nos seus recursos físicos”.

Os dirigentes rumaram a seguir ao Centro de Saúde da Amadora, que também funciona em vários pisos de um prédio do centro da cidade, mas tem elevador. Aí, perto das 20h00, já duas dezenas de utentes esperavam pela consulta de atendimento complementar.

A área dos ACES de Sintra e da Amadora tem um défice elevado de médicos de família. Só no caso de Sintra este número andará perto de 80 mil, de acordo com dados da Administração Central do Sistema de Saúde, enquanto na Amadora serão mais de 40 mil os utentes sem médico de família atribuído.

Para além de Alexandre Valentim Lourenço, a visita contou também com outros dirigentes da Ordem dos Médicos, como o vogal do Conselho Regional do Sul João Furtado e o Presidente do Conselho Sub-regional de Grande Lisboa, Anselmo Costa.

15 de janeiro de 2018

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